ATERRO OU LIXÃO? |
O que era para ser um aterro sanitário virou um lixão a céu aberto, o local impressiona e emociona quem para, ver, se aproxima e dedica alguns minutos de conversa com as pessoas que dali tiram o sustento da família. Visitamos na manhã da terça-feira (30), o que deveria ser o aterro sanitário do nosso município, deveria, porque não está sendo. Segundo os catadores as valas para aterro do lixo só foram abertas uma vez, há alguns anos, mas ultimamente o lixo é jogado e permanece a céu aberto. Atualmente quatro pessoas vivem do que coletam no lixão, todos trabalham sem proteção.
O senhor José disse que ainda acredita que um dia voltará a trabalhar para a Prefeitura como ajudante de pedreiro. |
A situação é preocupante por vários aspectos; do ponto de vista do meio ambiente, chega a ser o desrespeito com a natureza, pior ainda se levarmos em conta que até o lixo hospitalar é jogado lá, em alguns casos permanece exposto. Diversas vezes como contam os catadores, o lixo vindo do hospital é queimado, como aconteceu na segunda-feira (29), dia em que segundo os catadores, uma ambulância do município parou e um rapaz desceu, despejou e em seguida queimou o lixo que trouxera.
Celso Coelho |
O senhor Celso Coelho, proprietário de uma horta orgânica, na comunidade de Boa União, na segunda-feira foi numa propriedade vizinha ao lixão recolher pindobas para utilizar na sua propriedade, e se mostrou perplexo com a situação; “estou estarrecido, ao chegar aqui me deparei com esse lixão na minha cidade, confesso que me deu vontade de não dar mais sacola plástica na minha barraca, onde vendo coentro e outras hortaliças. Ver milhares de sacolas jogadas aqui me comoveu, e o pior é que não estão aterrando o lixo, assim o vento leva a maioria. Aqui era pra ter valas para enterrar esse lixo, nem que fosse a cada 30 dias”, afirmou o agricultor. Celso ainda lamentou pelas pessoas que vivem do que conseguem juntar ali; "é uma situação triste, ver pessoas aqui desse jeito, eu pensava que só existia isso nas cidades grandes, aqui não" concluiu.
José de Jesus |
O senhor José de Jesus Cruz, que já trabalha no lixão há 6 meses, disse que chega às 7h da manhã e trabalha durante todo o dia. Ele trabalhava para a Prefeitura como ajudante de pedreiro, mas o emprego só durou 90 dias, logo foi liberado. Segundo ele justificaram que o trabalho havia acabado. José lamentou a falta de proteção, eles trabalham sem luvas, botas e roupas adequadas; “só estou aqui porque não tenho outro jeito, preciso dar comida a minha família”. O homem de aparência tranquila, apesar da situação não demonstrava rancor, em momentos até sorria, ele só reclamou do fato de até os funcionários da empresa terceirizada, que vão ao local descarregar o carro do lixo, antes fazerem uma seleção, catando o que há de mais valioso do lixo que trazem; cobre, ferro, alumínio; “Para nós só fica o pior do pior”, disse.
Senhora Zifinha |
A senhora Zifinha já está há mais de dois anos trabalhando no local, ela tira o sustento dos filhos e netos do que recolhe do lixão; “ sou a que está a mais tempo aqui, chego todo dia às 7 e só saio seis da tarde” disse. Quanto ao aterro, segundo ela apenas uma vez um trator abriu uma vala, mas não fechou. A senhora Zifinha contou que um dos filhos se feriu gravemente no lixão e passou mais de um ano doente, só depois de ela ter feito uma promessa o rapaz conseguiu se curar do ferimento. Ela, assim como o senhor José, reclamou dos homens que despejam o lixo, segundo ela ultimamente só as garrafas pet e papelão tem sobrado para os catadores; “na semana passada eu fiz R$22,00 (vinte e dois reais), até o motorista do caminhão cata o lixo, vocês podem ver, e eles não precisam pois tem salário e nós não” lamentou.
Homens que vão ao local descarregar o caminhão, ficam com os materiais mais valiosos. |
Um jovem que também estava no local tentando tirar dali o dinheiro para o alimento da família nos chamou para mostrar uma caixa com seringas, provavelmente vinda do Hospital Municipal, foi também ele que apontou o lugar onde no dia anterior medicamentos foram queimados; “Já me ferir numa dessas agulhas, tenho medo de pegar uma doença”, disse assustado em tempo que mostrava o dedo que teria sido furado.
Catador mostra seringas jogas como lixo comum. |
A situação é assustadora, diante de tantas obras que acontecem em nossa cidade, a beleza de nossas praças, o progresso do comércio, os carros novas nas ruas, chegar no local e ver aqueles situação, nem dá para acreditar que se trata de uma problema barroquense.
Senhor Cilo |
Para termos mais informações a respeito do problema procuramos o senhor que na época vendou a terra para que fosse feito o aterro. O popular Cilo nos recebeu muito bem, e comentou a situação. Segundo ele o ex-prefeito Edilson Ferreira comprou o local dizendo que lá seria feito um aterro, mas só uma fez foi feito, depois o lixo foi sendo jogado, e passados cerca de 10 anos, a situação é de calamidade; “Edilson fez uma vez logo que comprou, por volta de 2001, depois nunca mais abriu as valas, Almir também depois que ganhou nunca fez, acho que ele não sabe da situação, pois nunca vi ele por lá, já Edilson ia sempre”, concluiu. Ainda segundo o antigo dono da terra, criadores da redondeza reclamam que as sacolas acabam caindo nos pastos e são consumidas pelos animais, alguns já morreram.
Depois de muita reclamação por parte de criadores a administração atual colocou telas nas cerca, o que segundo Cilo teria amenizado o problema; “Eu até já me arrependi de ter vendido aquele terreno, acabou me prejudicando e aos meus companheiros”, concluiu.
Valas foram abertas, mas nunca foram fechadas. |
Entramos em contato com a Prefeitura Municipal para falar com o Prefeito, mas ele estava em viagem para a capital, um funcionário ficou na dúvida se o aterro seria de responsabilidade de Prefeitura ou da empresa que cuida da coleta do lixo da cidade.
Outras imagens:
Os profissionais que coletem o lixo e descarregam no lixão também não usam luvas, botas nem roupas adequadas. |
Lixo hospitalar queimado a céu aberto. |
Senhora Zefinha que passa o dia trabalhando no local, conseguiu na última semana apenas R$22,00. |
Da Ronda @ Nossa Voz - Por Rubenilson Nogueira