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quarta-feira, 25 de abril de 2018

Barrocas: Vaqueiro desde os 12 anos de idade, Cláudio Santana fala sobre os desafios da profissão

Cláudio Lima de Santana - Foto Rubenilson Nogueira
Por Rubenilson Nogueira - Encorado e pronto para a labuta do dia a dia, também protegido pelos paramentos de couro, estava o seu cavalo. Próximo a eles, dois cachorros um preto e um branco, companheiros de trabalho, atentos a toda movimentação. Foi nesse contexto que conversamos nesta terça-feira (24), com o Vaqueiro Cláudio Lima Santana, 33 anos, um exemplo de dedicação pela profissão que remunera pouco, mas é exercida com muito amor.

O nosso encontro aconteceu numa casa de rações. Certamente ele dialogava com amigos sobre a lida no campo. Questionado sobre a possibilidade de falar sobre a profissão de Vaqueiro, Cláudio topou e logo nos contou que começou a trabalhar quando tinha 12 anos de idade: "Comecei acompanhando seu Zé Luiz de Miné, Miraldo Vaqueiro e outros, já tenho 21 anos de profissão" revelou.

Segundo o vaqueiro, essa é uma carreira que costuma ser passada de pai para filho. Para sua felicidade, o seu pequeno Manoel de 8 anos, já demostra gosto pela lida com o gado: "Os filhos seguem os pais, Manoel já sai comigo e vai sozinho em outro cavalo", revelou animado o homem que fala com semblante sério, sempre centrado: "Quando vou pegar gado na caatinga, ele vai junto comigo", acrescentou sem esconder o orgulho do filho.

Cláudio montado no cavalo ao lado de seus dois cachorros - Foto Rubenilson Nogueira
Na atualidade, é comum encontrarmos na roça, homens com trajes de vaqueiros conduzindo boiadas pilotando motocicletas, questionamos ao barroquense sobre essa troca, do cavalo pela moto, ele confirmou existir, mas logo alertou: "É verdade, os vaqueiros de hoje se for olhar tá usando mais a moto que o cavalo, tem muita coisa que dá pra resolver de moto mesmo. Pode até usar pra prender uma vaca na roça, até aí vai, agora na caatinga ela não entra" alertou. 

Questionado se a profissão do vaqueiro está ameaçada, Cláudio respondeu com firmeza que não, mas acha que o uso da moto prejudica a tradição: "É coisa nova, acho que prejudica um pouca a tradição. Mas enquanto tiver gado, e fazenda, tem a profissão do Vaqueiro".

Busquei saber um pouco mais sobre o seu trabalho, especificamente a respeito da condução dos animais nas estradas, quando e onde é mais arriscado a tarefa. Ele sem demora respondeu: "Quando estamos chegando próximo a cidade, pois tem que ter muito cuidado, tem os carros, as pessoas, a atenção precisa ser bem maior".

Perguntei se era comum deixar o boi fujão no mato para ir buscar no dia seguinte, com a firmeza de um homem de coragem, Cláudio prontamente respondeu: "Acontece de deixarmos só quando são muitos perdidos, em quantidade, mas quando é um só, nunca aconteceu de deixar no mato não".

Lembro dos bois encaretados, no passado era maior correria quando alguém dizia, "vem um boi encaretado aí". Os animais encaretados eram aqueles que por ter dado muito trabalho, recebia na cara, a careta, assim não tinha visão de onde estava, dificultado a fuga, logo seguia mais devagar, mas ocorria de mesmo assim, quebrar uma cerca e se embrenhar na caatinga. O Cláudio explicou que hoje em dia quase não se usa mais a tal careta: "Quando não quer andar, temos que amarrar e levar no carro. Hoje a gente só usa careta dentro da caatinga mesmo, pois na estrada é complicado. O movimento de veículos hoje em dia é bem maior, aí complica" pontuou.

Foto Rubenilson Nogueira
Já no finalzinho da conversa, questionei: Você está feliz com a profissão? "Eu gosto do que faço, e não mudaria de profissão, não me arrependo de ter escolhido ser vaqueiro". Gosta tanto que não será contra, se o filho quiser seguir na mesma profissão? insisti: "Se ele quiser, eu apoio, mas acho que é uma profissão sofrida, porque ganhamos pouco, mas estamos fazendo o que gostamos de fazer", destacou. Você é um vaqueiro experiente: Quis saber: "Eu acho que tenho experiência no serviço que faço" afirmou o jovem vaqueiro barroquense que se dedica à profissão que aprendeu ainda quando criança.

Qual é a diversão desses homens, o lazer de um vaqueiro que trabalha tanto e está sempre em risco: "O meu lazer é pegar de gado no mato, é o que eu faço nos finais de semana" ,revelou. Pois é assim, quase trabalhando, que os vaqueiros querem passar as horas de folga entre amigos.

Não poderia encerrar a conversa sem perguntar sobre o companheiro do dia dia, o cavalo, eu quis saber o nome do animal que, sem precisar ser amarrado, esperava o vaqueiro do lado de fora do estabelecimento comercial: "Eu tenho vários cavalos, mas tem um que a gente confia mais que os outros, o nome do meu cavalo é meio diferente, ele é conhecido como, Cama de Vara" contou explicando que o nome foi dado por outros vaqueiros.

Essa foi a conversa que tive com um jovem vaqueiro de 33 anos, que ama o que faz e apesar das dificuldades, e muitas vezes da falta de reconhecimento, mesmo assim não reclama da vida, segue feliz e satisfeito por fazer o que gosta. Uma simples, mas justa homenagem a todos os vaqueiros deste imenso sertão nordestino, em especial aos barroquenses.

@ Nossa Voz Por Rubenilson Nogueira

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