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terça-feira, 21 de julho de 2020

Sars-Cov-2: O Danadinho, Cancelou as Minhas Férias

Luis Cláudio Motta Mascarenhas
Cansado do atraso e pedindo desejoso para que o ano de 2019 acabasse, surge no mais distante horizonte o ano de 2020: todo pomposo e regido por Iansã e Xangô. Em meio ao trabalho cotidiano, atividades domésticas e profissionais, começamos a planejar tudo que faríamos neste ano, inclusive as nossas férias. Voltaríamos a percorrer o continente sul-americano após 4 anos e com um novo roteiro, a começar pelas pradarias uruguaias e terminaríamos em terras colombianas. Porém, um danadinho aportou nesse planeta e cancelou não só as minhas férias, como também as de outras pessoas.

Quando estamos para sair de férias, fazemos aquele planejamento. Primeiro verificamos se os nossos passaportes estão prestes a vencer (não pode ter 6 meses antes do prazo), olhamos o cartão de vacinação, verificamos a necessidade de visto e assim que recebemos a autorização, nos debruçamos pelo mapa da forma tradicional para fazer o roteiro com brigas ou não. Aqui em casa, durante esse processo tem muito mais briga, mas depois tudo se acalma depois da tempestade. O próximo passo é verificar aluguel de carro nos países para onde vamos, preço da diária dos hotéis e a cotação da moeda em relação a nossa, e como sempre o real é mais valorizado, nesses países do continente Sul-Americano e nos sentimos “milionários”. Diante disso, somos levados a estudar tudo sobre os países para entender a cultura, a política e o povo.

Depois da pandemia, teremos que adotar além dos itens descritos acima, outros cuidados. Por ser um vírus sistêmico, estima-se que teremos que enfrentá-lo por até 20 anos e como não se trata de uma simples gripezinha, os protocolos adotados pelos países, terão que ser seguidos, pois, não negamos a ciência e muito menos a nossa vida. Assim, além dos hábitos que que foram adotados durante a pandemia, serão incluídos numa cartilha para sermos alfabetizados novamente. Mas teremos que aprender e muito, afinal, o mundo mudou e ainda não percebemos.

E diante dos protocolos tomados pela OMS após o anúncio da pandemia, muito se debateu sobre quais medidas seriam adotadas para que a população não seja infectada e além disso, o nome do criador, era e é entoado pelos quatro cantos do mundo, o que me faz afirmar, que Ele cuida, mas nós teremos que fazer por merecer esses cuidados. A partir deste bojo, eu pergunto: o que levou o cancelamento das minhas férias? O que fez o mundo parar? O que leu, você ou melhor, o que nós aprenderemos com essa pandemia? Uma coisa se sabe, que no exato momento, estamos vendo o mundo a partir da nossa janela e não sabemos se sairemos melhores.
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No olhar do viajante, ao cruzar oceanos, o mundo ganhará sentidos diferentes, as pessoas se comportarão de forma díspares, o cotidiano urbano pós-pandemia terá diversas formas de mostrar para todos que tudo voltou ao “normal” e que agora nos cabe sobreviver e entender as diferenças. Mas aí é que está a celeuma, entender as diferenças. Será que estamos preparados? Como encontrarei Montevidéu? Como verei a arquitetura de Santiago? Como estará o gosto da cerveja de Buenos Aires? E a culinária de Bogotá? Juro, dá um nó na cabeça e na garganta só de imaginar que o velho para mim, será visto e saboreado tudo com um olhar novo, afinal, o velho assim como tudo que é (re)novo dá medo.

E o encontro com os amigos? O que farei quando encontrá-los? Posso abraça-los, beijá-los ou um simples sorriso já é o suficiente? Mas como existem os tais protocolos, sempre me vem à cabeça aquele distanciamento que deveremos manter em relação ao outro para evitar prováveis contaminações, pois, estudos mostram que anticorpos específicos contra covid-19 desaparecem depois de alguns meses, e isso quer dizer, que uma única dose da vacina, não seria o suficiente. E aí surge aquela indagação emblemática: e daí? Pelo que se vê, o vírus será um vilão no nosso meio, o simples fato de lavar as mãos, não será o suficiente durante a viagem, mas a ingestão de líquidos e alimentos serão essenciais para fortalecer nosso sistema imunológico e nos proteger dos vírus hospedeiros. E no quesito alimentação, eu sou chato!

Poxa, e o compartilhamento do transporte com outras pessoas? Durante o trajeto do aeroporto para o hotel, um emaranhado de diferentes línguas e culturas se encontram: você aprende um pouco e você ensina também. Será que as línguas mudaram? Será que a comunicação mudou? Esse é o meu medo. Conversar com alguém numa língua diferente da sua, te faz viajar e compreender (esse alguém), pela entonação da sua voz e all of me (tudo em mim) se mistura ao sentimento de alegria e empatia por colocar-me no lugar entender a sua história. Passou um filme, das brigas, birras e pirraças que me fazem atestar que preciso viajar, mas não á trabalho, mas para me divertir. Mas, pelo que estou vendo, o nosso país, está se tornando uma nação pária em relação ao planeta.

E os ritmos? E as danças? Ao Andar por Buenos Aires e adentrar pela Rua Florida, as notas do tango se fazem presentes: rodas com pessoas curiosas para verem os artistas se apresentarem com suas vestes chiques e passos que se faz desenhar a cada movimento. O tango e os passos dos dançarinos estarão afinados com o ritmo do que se toca? Ao aportar em Montevidéu, a Plaza Independência que mistura o tradicional com a arquitetura contemporânea estará com o mesmo encanto? E o Rio da Prata? Suas águas estarão turvas ou ganhará uma outra tonalidade? E a Plaza Itália, conhecida como olho de Santiago, que te levará a Cerro San Cristóbal, Centro Histórico ou de Negócios, estará com o mesmo trânsito conturbado? E a Plaza das Armas em Lima, estará com seu colorido e aquele aspecto místico deixado pelos Incas? E por último, como encontraremos Bogotá com sua música urbana e muito caliente? Essas perguntas ecoam pela minha cabeça e sei que tudo estará diferente.

É corona, foi capaz de nos deixar em casa e fazer estas indagações acima, mas desejoso para colocar a mochila nas costas e picar a mula. Assim, percebo com toda essa celeuma, que todo ciclo se encerra, mas um outro se inicia e novos aprendizados serão adquiridos. Espero que usamos no nosso cotidiano a resiliência para nos adaptarmos as mudanças, superar obstáculos, as pressões das situações adversas. Porém, o que mais desejo além de usar a camisa da Seleção Brasileira, é poder usar as dos países pelos quais passarei e assim, sorrir e gritar com toda a minha força que superamos e somos um só povo e um só continente. Enquanto isso, cá estou planejando as minhas férias e pedindo a Iansã e a Xangô proteção, paz e prosperidade.

Por Luis Cláudio Motta Mascarenhas
Graduado em Letras
Pós-graduado em Estudos Linguísticos, Medotologia do Ensino de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira
Pós-graduado Marketing Digital

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