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sábado, 27 de novembro de 2021

Vida de Trecheiro. O difícil momento da despedida da família

Senhor Valdir e seu filho Genivaldo, pai da pequena  Maria Cecília - Foto: Rubenilson Nogueira
Na última quinta-feira dia (25), 144 trecheiros, a grande maioria barroquenses partiram por volta das 22h em dois ônibus para uma longa viagem até o estado do Mato Grosso do Sul. Naquela noite o senhor Givaldo Bernardo Pereira de Jesus, 64 anos, conhecido popularmente como Gabardino, pedreiro aposentado, morador do Povoado de Lajedinho, veio até Barrocas trazer o filho Genivaldo dos Santos de Jesus, 28 anos. Genivaldo assim como os demais irá trabalhar na construção de uma fábrica de celulose, a maior da América Latina, na cidade de Ribas do Rio Pardo-MS.

Eu tinha acabado de fazer uma live, e assim que vi pai e filho juntos, lembrei que ali tínhamos duas gerações de profissionais da construção civil. Decidi entrevistá-los justamente para falarmos sobre o momento de despedia, questionado o jovem trecheiro afirmou: "A pessoa vai porque não tem jeito mesmo, aqui não tem emprego, tem que parti pra fora, mas vai com o coração partido. A gente tá indo pra lá na raça mesmo, porque já final de ano, já chegando o Natal e deixar a família aqui...", o relato já é forte, mas a cena a seguir me emocionou ainda mais.

Genivaldo e sua filha Maria Cecília
Enquanto conversávamos, uma vozinha chama a atenção. Foi o avó que primeiro percebe, mas logo Genivaldo escutou a voz da pequena Maria Cecilia chamando por ele. A criança que tem apenas um ano e quatro meses estava no carro com a mãe. Genivaldo foi ao encontro da pequena que começou a chorar, ele a pegou no colo, momento de emoção. O avó relembra que também passou por isso quando Genivaldo era criança, e ele partia para o trecho: "É difícil, eu já passei por isso. Ele na época que eu viajava era o mais grudado, o mais apegado. Na hora de sair, o peso era grande viu, sai porque, como ele tá dizendo, não tinha outro jeito", disse o senhor Givaldo (Gabardino) enquanto ajudava o filho com as malas.

"Tem que correr atrás de ganhar o pão de cada dia, mas não é fácil não", afirmou o aposentado ao ver se repetir a cena que por anos ele também teve que conviver. Gabardino e a esposa do filho retornaram para o Povoado de Lajedinho, Genivaldo entrou no ônibus e partiu. Serão no mínimo 90 dias, até a primeira baixada, quando os trabalhadores poderão retornar e passar alguns dias com a família. Vida dos heróis trecheiros!

@ Nossa Voz - Por Rubenilson Nogueira

1 comentário:

  1. Essa é a realidade do terceiro, ficar longe da família para conseguir o pão de cada dia!

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